Alguém diz que uma panela ou um livro é idoso? Não, porque “idoso” ou “idosa” só se aplica aos seres vivos, enquanto “velho” se aplica a coisas.
“Velho” são coisas corroídas pelo tempo, seja pelo uso ou pelo descuido, tenha elas ainda utilidade ou não. Pessoas não são velhas, mesmo que sejam longevas, mesmo que sua aparência não tenha mais o frescor da juventude. Mesmo que a doença tenha corroído seu corpo, sua alma, seu espírito, tudo o que aprendeu ao longo do tempo permanece intacto.
Mesmo que se diga “um velhinho”, “uma velhinha”, estamos diminuindo a importância da pessoa que está sob aquela aparência envelhecida.
Num tempo em que se fala tanto de bullying, em que temos que cuidar de cada palavra que dizemos, de cada gesto que fazemos, porque tudo é racismo, tudo é ofensivo, será que não percebemos que os nossos “velhos” também sentem, também sofrem, também choram com nosso descaso? A cada vez que chamamos alguém de “velho”, estamos colocando essa pessoa no patamar de “coisa imprestável”, cujo tempo já passou e agora pode ser jogada fora.
Pessoa idosa — esse é o termo que precisamos aprender a usar. Valorizar uma pessoa que viveu bastante é valorizar o nosso próprio futuro, porque essas pessoas acumularam o conhecimento, viram o que nós só sabemos de forma abstrata, através de pesquisas. Muitas viveram o horror da guerra, e muitas nasceram e cresceram nas dificuldades, sem condução, sem internet, sem telefone… Cresceram e se alimentaram da terra, curavam suas doenças com plantas e sabiam os remédios certos. Conheciam as fases da lua e seus efeitos sobre as plantações.
Precisamos aprender com eles, ouvir suas lições e valorizar seus conhecimentos.
Ninguém quer ser uma panela velha!
(Texto dedicado aos 20 anos da Pastoral da Pessoa Idosa)
18/11/2024
Texto de: ALICE ROSA VIEGAS – Escritora e idosa